Aquando da abertura das quatro propostas para a aquisição do paquete Funchal, esta quarta-feira, 5 de Dezembro, apenas a oferta do grupo hoteleiro britânico Signature Living cobria o valor mínimo estipulado - 2,3 milhões de euros "e mais cem euros", detalhou, ao Negócios, José Pinto Oliveira, o administrador de insolvência da empresa proprietária do navio.
Pelo caminho ficou a proposta de origem turca, tendo as subscritoras das ofertas francesa e brasileira estabelecido no momento um consórcio para entrar no duelo com a Signature Living pela compra do Funchal.
Aberta a sessão de licitação, tendo por base a maior oferta, o gestor judicial começou por admitir lances a partir de 50 mil euros, tendo mais tarde passado para os 10 mil euros - "porque isso atrai as pessoas", explicou José Pinto Oliveira.
"Ao fim de muitas dezenas de lances", a Signature Living arrematou o Funchal por 3,91 milhões de euros. Segue-se a assinatura do contrato, "a realizar neste final do dia", altura em que deverá proceder ao pagamento, a título de sinal, de 5% do valor da adjudicação.
O gestor de insolvência afirmou ao Negócios que desconhece em concreto a estratégia da Signature Living para o Funchal, mas que, disse, tudo aponta "para que queira converter o paquete num hotel".
O representante da entidade compradora disse apenas que o Funchal irá ser levado para Inglaterra e que esta é a primeira embarcação adquirida pelo grupo.
A operação de venda do Funchal acabou por correr bem melhor do que Oliveira prognosticava, já que, duas horas antes da sessão, o gestor judicial confessava ao Negócios: "Não tenho expectativa nenhuma de que esse preço [o valor mínimo de 2,3 milhões de euros] seja atingido."
Atracado no Cais da Matinha, às portas do Parque das Nações, em Lisboa, desde 2 de Janeiro de 2015, na sequência do seu arrastamento pela falência das empresas de cruzeiros de Rui Alegre, só os créditos reconhecidos em sede de insolvência da sociedade detentora do navio, a Pearl Cruises, totalizam cerca de 40 milhões de euros, estando maioritariamente ancorados no Montepio.
Há duas semanas, um trabalho da SIC avançava que o Montepio Geral terá financiado em 148,3 milhões de euros o ruinoso sonho naval de Rui Alegre, mais de metade desse valor sem quaisquer garantias.
Em causa estava a compra dos navios Lisboa, Porto, Azores e Funchal.
Segundo a investigação da SIC, foram assinados 58 contratos de crédito com as sociedades de Alegre, sendo que uma parte dos créditos foi concedido sob o parecer negativo do Departamento de Avaliação de Crédito (DAC) do banco.
A 30 de Junho de 2015, cerca de quatro meses após as diferentes sociedades de Alegre terem caído na insolvência, a Direcção de Auditoria e Inspecção do Montepio apresentou um relatório onde detalhava toda a ruinosa operação de financiamento de Alegre, a qual, somando outras garantias concedidas pela instituição ao empresário, colocava o Montepio com uma exposição da ordem dos 150 milhões de euros.
Parte desse dinheiro terá sido utilizado para amortizar dívidas anteriores do empresário, assim como para comprar dois automóveis e pagar salários de Rui Alegre.
Confrontado pela SIC, Tomás Correia, presidente e recandidato à liderança da Associação Mutualista Montepio, accionista maioritária da Caixa Económica Montepio Geral, disse desconhecer o relatório em causa e recusou-se a ver a cópia que a SIC lhe quis mostrar.
O Funchal, lançado ao mar em 1961 e que renasceu com Rui Alegre, após um investimento de 22 milhões de euros, voltou a zarpar em Agosto de 2014. Mas logo na viagem inaugural, o paquete acabou por ficar retido em Gotemburgo, com 400 passageiros, devido a duas avarias e problemas na inspecção.
Passados quatro meses, o mais emblemático dos navios portugueses de transporte de passageiros e de turismo de cruzeiro do último meio século amarrava no Cais da Matinha, onde ainda se mantém, tendo sido esta quarta-feira palco da cerimónia que determinou a sua venda à britânica Signature Living.
Texto copiado do site do Jornal de Negócios.
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